Quais são as principais barreiras que impactam as empresas na jornada digital?

Estranhamente ainda há um desconhecimento técnico sobre a diferença entre indústria 4.0 e transformação digital, claro que este equívoco fica na esfera conceitual. Bem, explicando rapidamente, a indústria 4.0 é o grupo de tecnologias habilitadoras que suportam as estratégias organizacionais para se chegar na transformação digital. Muito autores apresentam estas tecnologias (comento as nove aqui rapidamente que são, big data e analytics, robôs autônomos, simulação, integração de sistemas (tanto vertical quanto horizontal), Internet industrial das coisas (IIoT), segurança cibernética, computação em nuvem, manufatura aditiva e realidade aumentada). A Acatech (Academia Alemã de Ciência e Tecnologia) em 2017 posiciona a Indústria 4.0 em níveis, onde se confirma que uma empresa está inserida na transformação digital quando implementa alguma das tecnologias habilitadoras para a i) dar visibilidade do seu processo (resultados encontrados), para a ii) transparência das informações que estão sendo geradas, para a iii) capacidade preventiva de se antecipar momentos antes das coisas ocorrem dentro do processo, e como último nível, a iv) adaptabilidade autônoma das coisas quando da identificação de algo fora dos padrões. A Acatech fortalece que os níveis na indústria 4.0 têm por objetivo principal encurtar o tempo da tomada de decisão, com uso de dados, da revolução dos dados, da quarta revolução industrial.

Embora a Acatech apresente um modelo referencial de avaliação de maturidade da indústria 4.0 não há um direcionamento e objetivo conceitual de atuação nas barreiras para a transformação digital. Para compor esta discussão vamos apresentar alguns modelos, ou frameworks que venho estudando, e que suportam a estrutura das barreiras organizacionais encontradas. Dentro das abordagens avaliativas de maturidade, pesquisadores da Universidade de Bordeaux na França apresentam o MMEI (Maturity Model for Enterprise Interoperability ou Modelo de Maturidade para a Interoperabilidade Empresarial). A interoperabilidade, tem por definição básica a capacidade de um sistema de se comunicar de forma transparente com outro sistema (semelhante ou não). Desta forma, o MMEI utiliza como base conceitual o FEI (Framework for Enterprise Interoperability ou Modelo para a Interoperabilidade Empresarial), e dentro do FEI uma das dimensões de abordagem são as barreiras. As barreiras do FEI representam dificuldades, obstáculos e complicações que uma organização pode encontrar na jornada da transformação digital, e está dividida em três domínios: i) Conceituais, ii) Tecnológicos e iii) Organizacionais.

Observando esta estrutura apresentada, é como se buscássemos todas as respostas para o avanço das ações estratégicas da transformação digital dentro destes três domínios empresariais. Explicando melhor o que cada um deles significa, temos. As barreiras “conceituais” estão relacionadas à linguagens e termos, ou estratégias e visões entre os diferentes níveis de negócio ou entre empresas do mesmo grupo de negócio (chamados de barreiras sintácticas ou conflitos semânticos). As barreiras “tecnológicas” dizem respeito ao uso do computador ou da tecnologia da informação ou comunicação, as barreiras envolvendo este domínio atuam na impossibilidade de troca de arquivos de dados ou acesso à base de dados de um terceiro sistema. E por último, as barreiras “organizacionais”, que dizem respeito às incompatibilidades da estrutura organizacional e das técnicas de gestão implementadas em duas empresas.

A abordagem da jornada da transformação digital sob o olhar das barreiras permite um melhor entendimento das lacunas conceituais, tecnológicas e organizacionais existentes dentro da Cia, para que haja um melhor direcionamento estratégico de cobertura das necessidades, criando um ciclo de planejamento na execução das ações necessárias para a preparação, execução, implementação, monitoramento e revisão da transformação digital.